Gatos e PIF: a Mutação Rara, mas Fatal
Sem vacina segura, sem diagnóstico fiável e sobretudo sem
cura, a PIF é a infeção mais mortífera nos gatos. Uma vez detetada, a
esperança de vida restante do gato cai para 2 anos.
A Peritonite
Infeciosa Felina (PIF) é causada por uma das dezenas variantes do coronavírus.
A presença do coronavírus nos gatos é uma doença benigna, que geralmente não
causa sintomas e que os gatos acabam por combater eficazmente através da ação
do próprio sistema imunitário. Na realidade, a maioria dos donos não chega a
saber que o gato esteve infetado por este vírus. Contudo, em 1 a 3% desses
casos, o coronavírus degenera numa variante imunomediada quase sempre letal.
Gatos com outras
doenças que afetam o sistema imunitário, tais como leucemia (FeLV), ou uma
espécie de SIDA (FIV) estão mais vulneráveis ao desenvolvimento da PIF.
Paradoxalmente, um
sistema imunitário combativo não faz com que a progressão da PIF abrande, pelo
contrário, vai gerar a aceleração da doença se esta já estiver instalada.
PIF e Portadores
Nem todos os gatos nos quais se verifica a presença do
coronavírus desenvolvem sintomas. Em alguns, a doença manifesta-se meses ou
anos após a infeção ocorrer e, durante este tempo, podem infetar outros
gatos.
Os gatos que se
encontram em risco são aqueles que convivem com gatos vadios e os que partilham
a casa com outros gatos. Por gatos que convivem com felinos de rua não se
entende gatos que são passeados. Mas são de facto os gatos que habitam sozinhos
e que não saem de casa que menos riscos correm de desenvolvem esta doença.
Tipos de PIF
Existem dois tipos de PIF: a Húmida ou Efusiva e a Seca ou
Não-Efusiva. Ambas podem causar diarreia, perda de peso e letargia. Na verdade
a PIF não se trata de uma inflamação do peritoneu, mas sim de uma inflamação
dos vasos sanguíneos, vasculite.
PIF Seca ou Não-Efusiva
A PIF Seca é uma forma crónica da doença que se não for
tratada pode dar origem à variante húmida. É mais difícil de diagnosticar pois
os sintomas que apresenta não são exclusivos desta doença.
Sintomas
Lesões ocorrem por todo o corpo e os sintomas variam de
acordo com os órgãos afectados (rins ou fígado, por exemplo). Muitos gatos
desenvolvem inflamações oculares e/ou problemas neurológicos, tais como
paralisia ou ataques. Gatos com PIF Seca podem ainda desenvolver icterícia, ou
seja, obterem um tom amarelado na pele, que é mais visível no nariz.
PIF Húmida ou Efusiva
Esta é a variante mais grave pois para além dos sintomas que
são verificados na PIF Seca, há também acumulação de fluídos devido à
danificação dos vasos sanguíneos.
Sintomas
Na maioria dos casos de PIF Húmida, 60 a 70%, há acumulação
de fluídos no corpo, mais comummente no abdómen, o que gera um inchaço na zona
abdominal. O mesmo pode acontecer na zona toráxica, o que pode causar problemas
respiratórios adicionais.
Diagnóstico
A deteção da PIF não é tão fácil como à partida poderia
parecer. Os sintomas são comuns a outras doenças e ainda não há nenhum método
em que não ocorram falsos negativos ou falsos positivos, ou seja, gatos que se
pensava estarem infetados e mais tarde verifica-se que não, e gatos que se
pensava não estarem infetados e mais tarde verifica-se que estavam.
Métodos de
diagnóstico:
• Teste do
coronavírus – este teste verifica se existem anticorpos do coronavírus
presentes no gato. Mas a presença deste pode dever-se a qualquer outra variante
do coronavírus que não seja PIF. Os anticorpos permanecem mesmo depois de o
vírus desaparecer, ou seja, pode dar-se até o caso de o ter estado, e não estar
atualmente, infetado com o coronavírus.
• Polymerase Chain
Reaction (PCR) – é uma das formas de detetar especificamente o PIF, mas podem
ocorrer falsos positivos, pois a presença do vírus nem sempre indica doença.
• Análises do fluído
abdominal/toráxico / Raio-X – Só resulta nos casos de PIF Húmida
• Análise de Células dos rins ou fígado – É feita com
anestesia local através da aspiração. Pode ser indicativa no que diz respeito
ao despiste de outras doenças.
• Biópsia – é a única forma eficaz de diagnosticar PIF. Mas
submeter um animal debilitado a uma operação para recolher amostras de um órgão
é sempre arriscado. Muitos dos diagnósticos de PIF só são certificados por isso
depois da morte do animal através de biópsia. • Combinação de análises de
sangue – Esta é a forma mais útil, embora não seja 100% eficaz, a fiabilidade
dos resultados é alta. Podem ser feitas várias combinações de valores. Um
exemplo é: uma contagem baixa de glóbulos brancos, valores altos de globulina e
um teste positivo a anticorpos do coronavírus geralmente apontam para um caso
de PIF com bastante certeza.
Tratamento
Infelizmente não há tratamentos eficazes contra a PIF. Os
gatos são assim medicados na tentativa de eliminar ou aliviar sintomas.
Contudo, não há cura para a doença.
Eutanásia
Nos casos em que se manifestam sintomas e em que há um diagnóstico
sólido, a eutanásia é praticamente inevitável. O tratamento pode resultar no
alívio temporário dos sintomas, mas eventualmente a doença progride. Alguns
gatos recuperam, mas os casos são raros e constituem a exceção à regra.
Antes de optar por
esta solução tenha a certeza de que se trata de PIF, pois como foi referido
anteriormente, nem todos os coronavírus causam PIF.
Prevenção
Ainda não é claro como é que o coronavírus é transmitido
entre gatos, mas sabemos que o vírus sobrevive durante 3 semanas a temperatura
ambiente e que as secreções são um foco infecioso. Pensa-se que os principais
meios de transmissão sejam a ingestão de fezes e os espirros.
Existe alguma
controversa em relação a casos de diagnóstico positivo em gatos que partilham a
casa com outros felinos. Por um lado, para evitar a propagação do vírus a
outros gatos, geralmente aconselha-se o isolamento do gato infetado dos
outros, mas isto provoca stress no gato e acelera a doença. Sem forma de
despistar a PIF de forma segura nos outros gatos, estes já podem estar também
infetados.
Por outro lado, se
decidir manter os gatos juntos, a probabilidade de virem todos a desenvolver
PIF e terem todos o mesmo destino, a eutanásia ou morte, é significativa. Aconselhe-se
com o seu veterinário sobre a melhor forma de lidar e conter a doença.
A PIF não é
transmissível a humanos ou outros animais não-felinos, embora também se possa
encontrar o coronavírus nos humanos, por isso nunca isole o gato com PIF dos
humanos ou outros animais tais como os cães.
A higiene é a mais
importante arma contra esta doença. O coronavírus está presente nas fezes dos
gatos e a caixa de areia deve ser limpa diariamente. Um desinfetante comum é
suficiente para erradicar o vírus.
A par destas
precauções, certifique-se de que o gato se sente bem na sua casa com a sua
família. Gatos em stress estão mais vulneráveis à PIF e a qualquer outra
doença.
Existe uma vacina no
mercado, mas por ser recente, ainda não é clara a sua eficácia. Estudos apontam
em direções diferentes, por isso siga o conselho do seu veterinário em relação
a este assunto. Geralmente só é aconselhada a administração da vacina em gatos
que vão viver em casas onde o vírus esteve presente ou em animais em contacto
com gatos vadios.
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